Copom corta 0,75 p.p. da taxa Selic, para 3,00%; Consenso era 0,5%

O Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu a expectativa do mercado e reduziu a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, de 3,75% para 3,00%, renovando as mínimas históricas da taxa básica de juros na economia brasileira. Os membros do Copom decidiram, por unanimidade, dar prosseguimento à política de flexibilização monetária iniciada em julho do ano passado.
A perspectiva de os efeitos das medidas de isolamento social de combate à pandemia afundar a economia brasileira pesa favoravelmente para um balanço de risco assimétrico com viés deflacionário, ou seja, a alta capacidade ociosa de capital e de trabalho somada à deterioração da demanda aumenta a probabilidade de a economia brasileira passar por um processo de queda dos preços. A perda de 9,1% da produção industrial em março em relação ao mês anterior corrobora o viés deflacionário da crise.
Além disso, a decisão do Copom se baseia nas projeções de PIB e IPCA economistas do mercado divulgadas no Boletim Focus. Na última edição, a projeção do PIB para 2020 foi de contração de 3,76%, contra 3,36% na semana anterior, seguindo as revisões baixadas realizadas por instituições financeiras, com Citi que prevê queda do PIB em 4,5%, UBS projetando retração de 5,5% e o Bank of America estimando uma baixa de 3,5%.
Já a estimativa da atividade em 2021 foi elevada de 3% para 3,20% no último Focus. Isso significa que a recuperação no próximo ano deve se dar em ritmo mais intenso do que anteriormente esperado, levando o Banco Central a adotar um tom de cautela no comunicado sobre o momento de início da recuperação e de sua intensidade, para não correr o risco de o balanço de risco caminhar para simetria ou correr para assimetria com viés inflacionário.
No entanto, a expectativa de inflação de 2021 - horizonte da política monetária - prossegue comportada. De acordo com o Boletim Focus, a projeção é de alta de 3,30% no IPCA em 2021, uma queda em relação à estimativa de subir 3,4% da semana anterior, e abaixo do centro da meta de inflação de 3,75% estabelecida para o ano que vem, mas dentro da margem de tolerância. Essas expectativas asseguram o atual balanço assimétrico e mantém a possibilidade de o Banco Central prosseguir com a flexibilização monetária sem risco de gerar inflação.
Para este ano, a projeção do IPCA é também cadente. Segundo o último Focus, o IPCA deve encerrar o ano em 1,97%, apesar da escalada do dólar, que fechou nesta quarta-feira a R$ 5,70, nova máxima histórica. O caráter deflacionário da crise não é apenas local, com a autoridade monetária reiterando riscos de uma profunda queda do PIB global e de deterioração das condições financeiras internacionais impulsionadas pela pandemia
Além disso, o comunicado ressalta outro fator que pode elevar o risco inflacionário. A autoridade monetária considera importante a manutenção da agenda de reformas após a pandemia. Caso contrário, a frustração da continuação dessa agenda implica em desequilíbrios fiscais, especialmente com o aumento de gastos públicos no combate à pandemia e a seus efeitos deletérios na saúde pública e na economia.
Porém, a autoridade monetária não citou riscos políticos para prejudicar a agenda reformista, que são apontados por especialistas de interromper a aprovação de novas reformas no Congresso após a pandemia passar. Ontem, a Fitch rebaixou a perspectiva da nota soberana brasileira para 'negativa' citando os riscos da pandemia e da disputa entre Bolsonaro e o Congresso.
Antes da decisão do Copom, o ETF do Brasil nos EUA EWZ operava em queda de 0,7% no after market de NY.